terça-feira, 10 de junho de 2008

Resenha de "1968: O ANO QUE NÃO TERMINOU"

Em um livro minucioso, quase didático, o jornalista Zuenir Ventura relata o ano de 1968, vinte anos depois dos acontecimentos. Direto e pouco repetitivo, o livro conta com mais de uma dezena de personagens que vão desde os estudantes, personalidades, militares, intelectuais e o presidente da República. São relatados protestos e revoltas de uma geração revolucionária, com ideais propostos pelo iluminismo e pelo comunismo, inspirados em experiências bem-sucedidas de revolução, como é o caso de Cuba e Vietnã.

Luís Buarque de Hollanda realizou uma festa réveillon inesquecível em sua casa, conhecida como "réveillon da Helô". Numa festa que tinha de tudo para dar certo, aconteceram sucessivos fiascos e a destruição de objetos do casal Buarque de Hollanda que, já esperando por isso, cobraram uma taxa adicional na entrada para cobrir prejuízos. Outra festa como aquela jamais voltou a se repetir. O próprio Luís diz: "Réveillon como aquele, só uma vez na vida.

O aumento do consumo de drogas, que iria se intensificar ainda mais no ano seguinte, e a popularização do sexo como assunto de discussão marcaram a década de 60. O que era inadmissível na década anterior, tornou-se comum, sem importância.

Durante a interdição do restaurante Calabouço pela polícia do Rio de Janeiro morre o estudante Edson Luís Lima Souto, vítima da violência dos policiais. Revoltados os estudantes organizam protestos que comovem a população. O primeiro deles, no enterro Edson Luís, reuniu aproximadamente 50 mil pessoas o que fez dele um mártir para os estudantes. Sete dias depois, na missa de Edson, a cavalaria é mandada para os arredores da igreja, impedindo, por meio da violência, as pessoas de fazerem a suposta passeata após a cerimônia.

Motivada contra a repressão e contra a violência, a "Sexta-feira Sangrenta" foi o confronto mais violento entre estudantes e polícia. Os moradores dos prédios jogavam objetos nos policiais e estes revidavam com tiros para o alto, tentando impedir que mais objetos fossem atirados. Foi um dia de muitas vítimas. Mas foi graças a ela que a cidade estava preparada para a passeata dos 100 mil.

Os estudantes exigiam o direito de fazer uma passeata, que foi concedido pelo governador do estado. Os otimistas acreditavam em reunir 20 mil pessoas. Os mais ousados 50 mil. As pessoas não imaginavam que aquela passeata reuniria 100 mil pessoas em protesto contra a ditadura. Movidos pelo novo Hino Nacional, "Pra não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré, a passeata dos 100 mil ficou marcada como um dos mais importantes acontecimentos do ano.

A última parte do livro trata somente do AI-5, das motivações da norma legal, da resistência de Pedro Aleixo (vice-presidente da República) em decretar o Ato. Aos supersticiosos, o Ato Institucional Nº5, decretado por Costa e Silva no dia 13 de dezembro de 1968, sexta-feira, seria um golpe de má sorte que censura, reprime, exila e mata. Chamado de "O Golpe dentro do Golpe", o AI-5 fechou o congresso e criou censura prévia nos meios de comunicação. A notícia seria censurada antes mesmo de ser publicada.

O AI-5 foi o responsável por uma grande deficiência cultural durante todo o período da ditadura. Várias músicas, peças, filmes, livros e reportagens foram proibidos de serem comercializados ou exibidos.

1968 foi um ano de muitas perdas e algumas conquistas, uma época de esperança marcada por uma geração inconformada e ativa. O livro de Zuenir Ventura é um documento histórico que sintetiza e esclarece o que aconteceu em 1968 no Brasil.

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